Dentro das celebrações do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, partilhamos o artigo da atual vice-presidenta na Cáritas Brasileira, Cleusa Alves. Com o título “Ser mulher na Igreja: resgatando o protagonismo feminino”, o texto da autora reflete sobre o papel das mulheres no contexto machista que pode ser superado com a força e autovalorização do feminino.
Ser mulher na Igreja: resgatando o protagonismo feminino
Ignorar o ser mulher e não trabalhar e investir neste aspecto é certamente prejudicial para a pessoa, para a comunidade, para a vida religiosa e para a Igreja. Um ser humano que não se identifica e não cuida de seu ser "pessoa" dificilmente poderá ter relacionamentos autênticos, e por isso é importante trabalhar para que cada pessoa se reconheça amada como é e capaz de amar as outras como são, sem preconceitos.
(Ser mujer y religiosa hoy: desafíos - CATERINA CIRIELLO, FI)
Ser mulher na Igreja. Quem sou? Quem somos? Pensar o nosso papel, o nosso lugar eclesial traz um misto de alegrias e de desafios. Temos rostos e nomes diferentes, atuamos em várias frentes, e temos vocações distintas: mulheres casadas, consagradas, solteiras, mães, avós, tias, trabalhadoras, artesãs, camponesas, cuidadoras, catequistas, animadoras... Somos a face majoritária da Igreja que caminha. Me vem à mente a força e a coragem das mulheres empobrecidas de nossas comunidades eclesiais. São elas que mantêm viva a chama da fé, que não desanimam frente às dificuldades e assumem a vanguarda da solidariedade e do cuidado com a vida.
O preconceito, no entanto, ainda faz as pessoas nos enxergarem como seres de segunda categoria, incapazes de assumir determinados cargos ou funções. O machismo oprime muitas mulheres na Igreja que se deixam dominar por uma visão patriarcal e seguem reproduzindo práticas opressoras na educação de seus filhos e filhas na Catequese, nos espaços de evangelização e em suas vidas. Uma vez alguém me disse: “A coragem é feminina”. Nunca esqueci esta afirmação e a repito para mim mesma toda vez que ouço a clássica frase: “Ah... só tem mulheres aqui” - como se isso fosse expressão de fragilidade e razão de desânimo.
Para pensar o papel da mulher na Igreja hoje, me inspiro nas mulheres da Bíblia e da história da Igreja. Refiro-me a protagonistas tão escondidas pela leitura patriarcal, mas que saltam aos olhos quando buscadas pelas lentes feminina e feminista: Agar, Rebeca, Míriam, Raab, Débora, Abigail, Rute, Noemi, Maria, Joana, Lídia, Paula, Eustáquia e tantas outras. Me inspiro também nas mártires e lutadoras do povo. São muitas Margaridas, Dorothys, Bertas, Dulces e Marielles.
O Sínodo lança uma provocação bem clara para refletirmos sobre o papel das mulheres e das juventudes na Igreja. Cabe a nós, mulheres resistentes e resilientes, a tarefa de criar círculos de diálogo onde se possa, à luz da palavra de Deus, desconstruir visões equivocadas, preconceitos e resgatar a dignidade da mulher, bem como seu papel protagonista. A nós, não compete somente a função de realizar tarefas e sustentar a vida em comunidade. Precisamos, cada vez mais, ocupar espaços de deliberação e tomadas de decisão.
Cleusa Alves da Silva:
Vice-presidenta da Cáritas Brasileira, integra o Comitê Identidade e Espiritualidade da Cáritas Internacional. Goiana, nascida em 1962, desde a juventude engajou-se nas lutas dos movimentos sociais por meio do acompanhamento à formação de Comunidades Eclesiais de Base e as pastorais da Juventude da Igreja Católica. Chegou à Bahia em 1991, onde deu continuidade à sua trajetória militante no assessoramento da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) na Diocese de Ruy Barbosa.
Cleusa tem sido uma voz firme e de esperança para segmentos historicamente excluídos e vulnerabilizados, como as populações tradicionais, indígenas, quilombolas, mulheres, crianças, adolescentes e jovens. A deputada estadual Neusa Cadore (PT) comentou que “Sua atuação, em consonância com os valores cristãos, tem sido um testemunho de dedicação, compromisso social, solidariedade e fraternidade, na luta pela garantia dos direitos humanos” – oferecendo-lhe, assim, o título de Cidadã Baiana em 2021.
Fontes de apoio:
https://www.al.ba.gov.br/midia-center/noticias/52125
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Deixamos a seguir algumas sugestões de documentários curtos relacionadas à temática da Mulher, caso tenham interesse em assistir ;)
- Sem Medo de Ser Mulher : Clique neste link para assistir
- Lourdes Dill: Documentário de curta-metragem integrante da série "No meu tempo", produzido pela TV OVO em 2011 dentro do projeto Por Onde Passa a Memória da Cidade. O projeto conta com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria. Clique aqui para assistir.
Nós, mulheres da Cáritas Regional NE3, desejamos a todas um futuro breve de conquistas e avanços sociais onde cada uma de nós protagonize novas histórias sem perder de vista nosso poder.
Assessoria de Comunicação Cáritas NE3