Histórias de lutas, conquistas e desafios fizeram parte dos
relatos e partilhas de integrantes de comunidades visitadas por agentes da
Cáritas Alemã nas comunidades de Resina, em Ilha das Flores, Riacho do Meio, em
Umbaúba e Salgado (SE), nos dias 2 e 3 de dezembro.
Dona Marilia é uma das anciãs na comunidade de Resina, situada
na região da Foz do Rio São Franscisco, em Sergipe. Segundo a moradora, na
década de 1970, quando ela chegou na comunidade não tinha energia elétrica nem moradia
digna. “Vivíamos com panos nos olhos até a chegada da Cáritas através de Padre
Isaias”, relatou.
Dona Iraneide destacou a luta dos moradores locais por
acesso a direitos. “Até hoje a gente continua lutando e já conseguimos casas. A
luta foi fundamental diante das diversas ameaças de morte de moradores aqui da
comunidade, diante da disputa pelo território”, contou.
Entre as diversas parcerias que apoiam a comunidade para a
conquista de seu território, o trabalho de conscientização, formação e
estruturação feito pela Cáritas ganha destaque – desde pequenos projetos de
geração de renda como criação de galinhas, projeto de barco e pesca até a
produção de arroz agroecológico e o fortalecimento da Rede Balaio, esta última
criada em 2019 com a produção de alimentos em diversas regiões da Bahia e de
Sergipe, além do artesanato qu contribuem para a transformação social nos
territórios de atuação da Caritas Nordeste 3 nos dois estados.
Já conquistamos muito, mas precisamos avançar mais. É
necessário discutir o modelo, refletir com a sociedade que a produção de
alimentos perpassa pelo acesso à terra”, apontou o agente Cáritas de Propriá, Mauro
Luiz Cibulski.
FOTO: Alan Lusttosa
Uma das lideranças locais, Magno enfatizou a importância da unidade nas lutas coletivas frente à especulação imobiliária e devastação dos manguezais pelos grandes empreendimentos na região. Depois de muitos anos de resistências, o território quilombola de Brejão dos Negros foi reconhecido recentemente, em novembro de 2023, como terras remanescentes de Quilombo – que, para a liderança é fruto da unidade da luta.
Na comunidade de Riacho do Meio, em Umbaúba, são
desenvolvidos pelo Movimento Camponês Popular que atua há 9 anos em Sergipe com
a contribuição da Cáritas, trabalhos com mulheres para a geração de renda a
partir da mandiocultura e da comercialização da laranja por meio de programas
federais como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE). Depois da aquisição de um fogão e uma batedeira
industrial, a renda das famílias têm aumentado com a venda de iguarias como
bolos de leite, laranja, tapioca e pé de moleque.
O representante da Cáritas Alemã, Claudio Moser, destacou a
importância da ação da Cáritas como abordagem integral. Segundo ele, a entidade
vai deixando seus impactos e legado nos territórios, a partir do empoderamento
das pessoas que deles fazem parte.
FOTO: Alan Lusttosa
Intercâmbio do Projeto Içá: Ação e Proteção
Em Salgado, Sul de Sergipe, os agentes das Cáritas Alemã
conheceram de perto a experiência do Projeto Içá: Ação e Proteção durante o 2º
Intercâmbio do projeto, evento sediado na Casa Serena – instituição parceira da
Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 que atua com crianças, adolescentes e
mulheres por meio da alfabetização, de atividades socioeducativas, culinária,
artesanato e costura.
O intercâmbio buscou promover a troca de experiências entre coletivos
de cinco municípios acompanhados pelo projeto, sendo Salvador, Feira de Santana
e Elísio Medrado, na Bahia; e Tomar do Geru e Salgado, em Sergipe. Ao longo da
atividade, os participantes refletiram o caminho percorrido em 2023 com troca
de metodologias e uma roda de conversa sobre a incidência política no
enfrentamento à violência sexual de crianças e adolescentes nos dois estados, com
apoio de membros dos Comitês Estaduais de Enfrentamento à Violência Sexual; também
construíram propostas conjuntas para execução em 2024. Participaram voluntários do projeto entre
representações do poder público (conselho tutelar, CRAS, CREAS e SCFV) e da
sociedade civil (lideranças religiosas, educadores sociais e líderes
comunitários).
Para a assessora regional na Cáritas Nordeste 3, Denise
Azevedo: “Momentos como esse são importantes para reacender as esperanças,
realinhar as expectativas, refletir sobre os indicadores, trocar conhecimentos
e experiencias e capacitar nossos voluntários que são as mães, os olhos e
pernas do projeto nos territórios”, concluiu.