Nesta segunda-feira (24)
completou 29 dias da ocupação de representantes e lideranças comunitárias do
território do Alto Sertão Baiano às margens da rodovia BA-156, na altura de
Licínio de Almeida. O grupo segue em protesto contra os impactos do transporte
de minério na região.
Os populares de Brejo, Barreiro, Louro, Boiada, São Domingo, Riacho Fundo e Taquaril dos Fialhos, em Licínio de Almeida, deram início à ocupação no dia 26 de setembro fazendo barricada na estrada vicinal que liga a localidade de Brejinhos das Ametistas a Licínio de Almeida, na BA-156. Caminhões carregados de minério se deslocam dia e noite para o pátio de uma mineradora no município supracitado.
O deslocamento dos veículos levanta
e espalha poeira de pó de minério, o que tem afetado a saúde da população circunvizinha,
sobretudo com doenças alérgicas em crianças e idosos. O pó também impacta a
produção da agricultura familiar devido à poluição do solo e das águas. A
mineradora também faz uso indiscriminado de água afetando o abastecimento
hídrico local.
Movimentos sociais e moradores das comunidades fizeram manifestação e assembleia nesta segunda-feira (24) | FOTO: Coletivo de Comunicação MAM
De acordo com o assessor regional
na Cáritas Nordeste 3, Alfredo Baleeiro, a ocupação segue com o apoio de
diversas instituições como a Cáritas, a Comissão Pastoral da Terra (CPT-BA), Movimento
pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e parceiros locais.
“Estamos indo lá também todos os dias, contribuindo com a luta e realizando
formações como a que fizemos sobre a história da mineração no território e o
modelo de mineração no Brasil, onde participaram cerca de 150 integrantes das
comunidades. Tem sido um processo muito rico, de luta e educação popular”,
conclui.
Por meio do Programa Global das
Comunidades da Nossa América Latina, a Cáritas tem contribuído também com apoio
na alimentação das pessoas que estão na ocupação. A entidade construiu, em
coletivo, uma carta para cobrar posição do poder público e integra uma comissão
para avaliação do andamento da luta. O
Deputado Estadual, Marcelino Gallo, assinou a carta em apoio ao movimento. “Só
o impacto na saúde das famílias, com a quantidade de poeira levantada, já seria
suficiente para que houvesse um diálogo e resolução dos conflitos, mas além
disso, os trabalhadores têm sofrido com a poeira que fica sobre as lavouras
impedindo o desenvolvimento das plantas”, escreveu o parlamentar na rede social.
Venício Montalvão é militante MAM
e denuncia o modelo de mineração que segue invadindo as comunidades. “A luta
que essas comunidades fazem, embora possa parecer um problema localizado de
algumas comunidades que se incomodaram com poeira, ela é na verdade a expressão
do modelo de mineração brasileiro. Um modelo antidemocrático em que as
comunidades não podem decidir se querem a passagem de caminhões, se querem que
utilize da sua água para molhar estradas. A BAMIN começou a passar nessa via
sem nem apresentar no projeto da empresa essa possibilidade”, acrescenta.
O grupo pede a abertura de um
diálogo com a mineradora para a resolução do problema enfrentado pelas
comunidades que, há quase um mês de movimento, ainda não viu manifestação do Ministério
Público, nem do Estado de forma mais ampla. Nesta segunda-feira (24), as
comunidades realizaram uma assembleia onde decidiram pela continuidade no
movimento com indicativo de manifestação e ocupação da ferrovia por onde o
minério é escoado.
Programa Global
O Programa Global das Comunidades
da Nossa América Latina é desenvolvido pela Cáritas Brasileira (Regionais
Nordeste 3 e Norte 2), Cáritas Colômbia e Honduras e apoiado pela Cáritas Alemã
e Ministério Alemão. É realizado a partir da participação e incidência política
nas comunidades tradicionais em cada país e visa melhorar a implementação dos
direitos à terra e ambientais, promover a participação política das comunidades
rurais e disseminar abordagens inovadoras para a adaptação às mudanças
climáticas nos territórios.
Rafael Lopes
Assessoria de Comunicação
Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3