Oitenta mulheres representantes de comunidade geraizeiras
participaram, nos dias 23 e 24 de março, no distrito de Sítio Grande, em São
Desidério, no Oeste Baiano, do II Encontro de Mulheres pelo Cerrado. Com o tema
“Cerrado e sociobiodiversidade: das correntezas das águas à força das mulheres”,
o evento trouxe à tona a força, as potencialidades e constantes ameaças que o Cerrado
enfrenta.
A iniciativa foi uma oportunidade ímpar para a partilha das
lutas das comunidades e dos movimentos sociais que atuam no território e para
evidenciar a importância das águas do Cerrado e da preservação deste bioma como
fonte principal de águas do Brasil.
Presentes na atividade, a assessora técnica na Fundação de
Desenvolvimento Integrado do São Francisco (Fundifran), Taciana Carvalho, e a
assessora regional na Cáritas Nordeste 3, Aniele Silveira, destacaram a
incidência política e o assunto das mudanças climáticas e os impactos para as
mulheres no Cerrado.
“O encontro discutiu temas marcantes e representativos,
sobretudo, para o mês de março que tem como marcos simbólicos o dia
internacional da mulher (8), o dia nacional das mudanças climáticas (16) e o
dia mundial da água (22). O cerrado é berço de vida, de água, da sociobiodiversidade,
uma riqueza que infelizmente vem sendo ameaçada pelo latifúndio e pelo
agronegócio”, lembrou Silveira.
De acordo com a assessora da Cáritas, o aumento crescente do
desmatamento no bioma, o avanço do latifúndio e da grilagem de terras são
exemplos de enfrentamentos que as mulheres precisam fazer.
“Em contraponto a esse cenário, colocamos em pauta a agroecologia
e as tecnologias sociais que fortalecem as comunidades com iniciativas como os
quintais produtivos, a economia popular e solidária, a incidência política com
a proximidade das eleições e a necessidade de escolhas estratégicas para
manutenção do Cerrado vivo e de sua valorização cultural.”, completou Aniele.
Acolhidas pelas quebradeiras de coco babaçu, as mulheres de
vários povos e comunidades tradicionais do Oeste Baiano – incluindo indígenas,
quilombolas, fecheiras de pasto, ribeirinhas, atingidas por barragens,
apanhadoras de sementes, artesãs extrativistas, raizeiras, benzedeiras e agricultoras
– aproveitaram o encontro para reafirmar a existência e modos de vida
tradicionais.
Durante a programação houve ainda a exibição do documentário
“Babaçu: quebra de lá, quebra de cá” – produção que trouxe relatos de
quebradeiras de coco babaçu, mestras do conhecimento popular e tradicional do
cerrado, promovendo o reconhecimento dos povos e comunidades tradicionais na
importância da proteção e conservação do Cerrado. Na noite do sábado (23), foi realizada
a II Feira das Mulheres do Cerrado, atividade regada a cores, sabores, saberes
e cultura popular.
Engajamento e força feminina
Engajadas com a luta coletiva, as mulheres enxergaram o
evento como uma oportunidade para ecoar um grito de socorro contra o avanço do
agronegócio, do hidronegócio e da mineração nos territórios, reafirmando a
defesa dos rios e da sociobiodiversidade. O coletivo se une em enfrentamento
aos projetos de barragens, às autorizações do Governo da Bahia para supressão
de vegetação nativa nas áreas de recargas dos rios, à autorização de outorgas
que matam as nascentes e provocam o desaparecimento das águas ferindo os modos
de vida ancestrais e a nossa relação das comunidades com a Casa Comum.