Nos dias 8 e 9 de abril, a Cáritas Brasileira realizou o Encontro Nacional de Incidência da rede, em Brasília, visando revisitar e rever processos de incidência política que são promovidos pela organização. O encontro contou com cerca de 40 participantes, entre eles: representantes de regionais, articulações, comissões, comitês, membros da Diretoria e da Colegiada Nacional, além da assessoria nacional. 

Durante a programação foi feita uma análise de conjuntura, assim como uma sistematização do percurso de incidência política que a Cáritas Brasileira esteve envolvida desde a década de 1950 até os dias atuais. Além disso, aconteceram momentos de partilha de experiências e debates sobre os processos de incidência da rede.

Foi uma oportunidade para agentes Cáritas de Norte a Sul do país que integram o Comitê de Incidência socializarem o contexto de seus territórios. “Entrei recentemente no Comitê de Incidência da rede Cáritas e, na minha primeira participação em um encontro com todos os integrantes, me senti verdadeiramente acolhida. A programação foi extremamente enriquecedora — é de grande importância conhecer e compartilhar as vivências de incidência realizadas em cada região. Foi gratificante perceber toda a potência que essa rede carrega”, contou Joelma Costa, agente Cáritas em Boa Vista-RR que representou a Articulação Norte 1 no encontro. “Volto para Roraima com o coração aquecido e fortalecida. O seminário proporcionou momentos valiosos de troca de experiências, que nos inspiram e trazem novas ideias para fortalecer o trabalho nas bases e seguir firmes na luta por justiça social!”.

Construção de linha do tempo das ações de incidência da rede Cáritas de 1950 aos anos 2020

Um dos momentos importantes foi a contextualização do cenário político atual, feita por Valquíria Lima, diretora-executiva nacional da Cáritas Brasileira, diretora-executiva nacional da Cáritas Brasileira, mostrando as dificuldades que se consolidaram a partir deste ano no cenário da ajuda humanitária mundial. Os cortes realizados pelos países desenvolvidos afetam diretamente as organizações que buscam auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade. 

“Precisamos dar um salto na nossa resiliência coletiva, repensar paradigmas, renovar o espírito de proatividade e fortalecer estratégias que garantam a continuidade das nossas parcerias. É tempo também de construir e anunciar narrativas que dialoguem com os desafios do presente, capazes de reencontrar e reencantar a sociedade”, declarou Valquíria.

Como convidado, o encontro teve a participação do assessor Adriano Martins, do Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS), que durante sua fala enfatizou: “A incidência política vai além do Estado e das leis, ela depende do apoio social e de uma cultura de direitos bem consolidada. Trata-se de um processo socioeducativo e participativo, que envolve estratégias, comunicação e articulação entre pessoas e organizações”.

Durante o segundo dia, os participantes foram divididos em 4 grupos, para trocar e desenvolver estratégias de incidência política dentro das áreas de atuação prioritárias da rede Cáritas, sendo elas: Economia Popular Solidária, Mulheres, PIAJ, MAGRE, Povos e Comunidades Tradicionais, Convivência com Biomas, e Migração e Refúgio.

“A incidência política é uma forma que a rede Cáritas tem de buscar a defesa e promoção do Bem Viver, a garantia de direitos a populações vulnerabilizadas e, com isso, alcançar a justiça social!”, explicou Larissa Vieira, assessora nacional e integrante da comissão organizadora do evento. “Desse modo, a atividade foi uma oportunidade de refletir sobre os caminhos da atuação política da instituição, compartilhar experiências e construir, de forma coletiva, subsídios técnicos e estratégicos para qualificar ainda mais a incidência da Rede Cáritas nos territórios”.

Entre os temas mais debatidos diante do atual cenário mundial, destacam-se a necessidade de fortalecer a mobilização de recursos no próprio país; a atuação dentro da Igreja, com o objetivo de sensibilizar alas ultraconservadoras; o engajamento com as juventudes, grupo visado por movimentos que disseminam a cultura de ódio; e a incidência política por meio do desenvolvimento de novas estratégias de comunicação, com a intenção de “estourar a bolha” e alcançar públicos além dos já engajados. 

Outro ponto relevante foi socializado por Cátia Cardoso, assessora regional da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e representante da Comissão Mulheres e Equidade de Gênero, que reforçou a importância da “valorização da arte e da cultura não apenas como ferramentas, mas como estratégias centrais de mobilização social, capazes de tocar mentes e corações”. Como exemplo ela mencionou a realização do documentário "O que move é a caridade", que fala sobre a atuação da Cáritas pelo Bem Viver.

Cátia Cardoso, assessora regional da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e representante da Comissão Mulheres e Equidade de Gênero

Incidência na COP 30

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) também foi debatida entre os participantes, com o objetivo de articular ações de incidência dentro da Conferência, que acontecerá em novembro de 2025, em Belém do Pará. A rede Cáritas tem pensado em uma agenda de incidência, junto à Arquidiocese de Belém, a Cúpula dos Povos, a Romaria das Juventudes, entre outros espaços, a fim de promover atos e ações que somem à incidência dessas outras organizações.

“A nossa incidência e nossa articulação para a COP 30 tem sido construída em conjunto com outros organismos. Existe um espaço principal da Igreja, que é chamado Igreja Rumo à COP 30, fazemos parte dessa coordenação. Estamos integrados na Cúpula dos Povos e no Comitê Local da COP 30, e estamos também dialogando com autoridades”, disse Lucas D’Ávila, assessor nacional da Cáritas.

A articulação Igreja Rumo à COP 30 é uma iniciativa convocada pela Presidência da CNBB, que reúne um amplo conjunto de instituições católicas comprometidas com a agenda socioambiental, entre elas a Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração, a Comissão para a Ação Sociotransformadora, a Comissão Especial para a Amazônia, a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o Movimento Laudato Si’ e a Cáritas Brasileira. Ao todo, mais de 100 organizações estão engajadas nessa caminhada profética e transformadora.

Para a finalização dos dois dias de reflexões sobre a incidência política no encontro, os participantes realizaram um ato simbólico com o objetivo de levar para essa reunião palavras cheias de solidariedade e amor ao próximo. 

A atividade contou com o apoio da Cáritas Alemanha e financiamento do Ministério Federal de Cooperação e Desenvolvimento Econômico do Governo Alemão (BMZ), por meio do projeto Amazônia Bem Viver: Comunidades Resilientes.

Mística de encerramento do Encontro Nacional de Incidência da Rede Cáritas