O Quilombo Alto do Tororó viveu um momento histórico nesta quinta-feira
(29). Isso porque há pelo menos 40 anos a comunidade não realizava sua
tradicional festa dos pescadores e marisqueiras e pôde resgatar essa cultura e
festejo tão importantes para seu povo. A iniciativa teve apoio de parceiros
como a Cáritas Nordeste 3 e o Centro Público de Economia Solidária (Cesol) Salvador.
Festejo reuniu diversas manifestações culturais da comunidade. FOTO: Rafael Lopes
O Quilombo Alto do Tororó existe e resiste desde o início do
século XVIII. A comunidade fica em São Tomé de Paripe, em Salvador. Quem viu de
perto o festejo nos anos remotos e agora vê sua retomada é a quilombola Fátima
Lima, anos 64 anos. “Estou muito feliz porque depois 40 anos pudemos trazer de
volta nossa festa do pescador graças a nossos parceiros. Quero agradecer a
todas as instituições que nos ajudaram a resgatar essa cultura de volta. Espero
ter anos de vida e saúde para darmos continuidade à festa do pescador”, comemorou.
Fátima Lima é uma das protagonistas da história e memória do Quilombo Alto do Tororó. FOTO: Rafael Lopes
Para ela, ver a juventude engajada e participando da cultura
local é uma realização. “É muito gratificante porque é essa juventude que vai
dar continuidade a nossa cultura, nossos costumes, que não podem se perder no
tempo. Temos trabalhado com as crianças e os jovens para que eles tenham consciência
da importância da preservação de nossa cultura”, acrescentou.
Filha de Dona Fátima, Bárbara Marê é jovem e participa
ativamente das atividades do quilombo. Para ela, o festejo é uma oportunidade
de “aquilombamento”. Para além do fortalecimento da ancestralidade, percebo
esse momento com uma oportunidade de aquilombamento pois vivemos numa
globalização e percebemos que muitas coisas vão se perdendo. Então, resgatar
essa festa que já tinha mais de 40 anos sem ser realizada é aquilombar-se. Ver
as crianças participando de um momento como esse é legitimar a frase “Resistir
para existir””, concluiu.
Bárbara Marê vive nova era com resgate das tradições e valorização da cultura local. FOTO: Rafael Lopes
Ao longo do dia, diversas atividades fizeram parte da festa
como a corrida de canoa, samba de roda, samba junino, apresentação de capoeira
e bumba-meu-boi. Além da Cáritas NE3 e do Cesol Salvador, também apoiaram o
evento a Cirandas Assessoria e o Coletivo Resistência Preta. A Cáritas Nordeste
3 atua na comunidade por meio do Programa Global das Comunidades Tradicionais
de Nossa América Latina - projeto que leva incidência política, intercâmbios e
atividades formativas a comunidades da Bahia e de Sergipe.
Concurso de Canoas foi uma das atrações da festa. FOTO: Rafael Lopes
Ascom Cáritas NE3
Rafael Lopes | DRT/BA 4882