COLABORE

Crise climática e alternativas socioambientais são assuntos centrais em encontro interregional

Áreas de Atuação

A 4ª edição do Seminário de Crises Climáticas e Alternativas Socioambientais aconteceu no Território Quilombola Brejão dos Negros em Sergipe

Publicação: 06/09/2024





“O caminho é entender que tudo está interligado”: esta foi a chamada para o IV Seminário de Crises Climáticas e Alternativas Socioambientais que reuniu nos dias 29 e 31 de agosto aproximadamente 60 participantes de diferentes partes da Bahia e Sergipe no Território Quilombola Brejão dos Negros, município de Brejo Grande, SE. O evento foi organizado pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 com o objetivo de gerar discussões, pensar em alternativas e trocar conhecimento com foco no enfrentamento à crise climática. Contou-se com a presença das Pastorais e Movimentos Sociais, Instituições de Ensino Superior, representações das entidades membro da Cáritas NE3 e lideranças das comunidades que são acompanhadas pela entidade. 


No primeiro dia de encontro foi realizada uma visita guiada às lagoas de produção de arroz agroecológico do Quilombo Resina (que faz parte do Território Quilombola Brejão dos Negros). Foram debatidas questões da transição agroecológica, lutas que o território enfrenta enquanto uma Comunidade Tradicional e também o processo organizativo que aconteceu com ajuda da Rede Balaio (Cáritas NE3) no Território por meio da Economia Solidária. Houve um painel sobre o tema “Crise climática: territórios, agroecologia e a produção de alimentos” com as representações do MPA Elielma Vasconcelos e Lenice dos Santos, quando, ao final tod@s puderam fazer partilhas e intervenções. 



Foto: Messias Tavares


O evento seguiu para o segundo dia com um debate sobre “Racismo ambiental, violências no campo e novos desafios a serem superados” , com falas de Cláudio Dourado (CPT Bahia), Daniela Bento (CPP Sergipe) e Tiago Rodrigues (UFRB/Geografar UFBA). Durante a tarde, ocorreu uma exposição de Deorgia Souza da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS/PPGM/Mapbiomas/Labespectro) sobre “Drives de degradação e as mudanças climáticas”. O evento encerrou com todos os participantes podendo pensar sobre estratégias que fortalecem as lutas nos seus territórios, com encaminhamentos para cada região e proposições socioambientais para curto, média e longo prazo. 



Foto: Messias Tavares


A participação da juventude foi um destaque. Para Aniele Silveira, Assessora de Mudanças Climáticas da Cáritas NE3, é fundamental que os jovens incorporem a temática ambiental e agroecológica, porque eles são o elo entre o passado e o futuro: “É importante que os jovens das comunidades possam se entender como protagonistas das histórias, do estabelecimento da comunidade, da tradição, de serem responsáveis por serem mantenedores do espaço, de estarem e conviverem em harmonia com a natureza, tendo a perspectiva da geração passada, mas sabendo que são o futuro”, afirma. 



Foto: Messias Tavares


Para André dos Santos, da Comunidade Tradicional de Subaé (Antônio Cardoso, BA), foi uma surpresa saber que existe uma plantação de arroz agroecológico aqui no nordeste do Brasil, já que a maior parte destas plantações estão no sul do país devido ao clima. “Foi uma experiência sem comparação, vendo pessoas humildes com uma técnica tão magnífica e eficaz no trabalho de cultivo de arroz. Feita por pessoas que lutam para sobreviver”, argumenta. 


Daniela Cordel da CPP, considera que o Seminário foi fundamental em dois aspectos: do ponto de vista ambiental, trouxe para o centro do debate a questão climática, analisada à luz da concentração agrária e os modelos de produção praticado no país onde os saberes ancestrais vem sendo usurpados desde a colonização aos dias atuais. Neste sentido, Cláudio Dourado da CPT salienta que a localização geográfica do encontro, banhado pelo Rio São Francisco, foi estratégica, já que as questões da crise hídrica vêm se ampliando nos últimos tempos. “A CPT vem fazendo um enfrentamento muito grande sobre essas questões dos conflitos agrários, conflitos hídricos. E essa experiência nos ajuda a perceber que quase sempre, quando há crises, as respostas do Estado são nas engenharias. E os conflitos geralmente acontecem, não simplesmente pela engenharia, mas pela governança”. 


As alterações climáticas têm impactos globais, e sentimos muito fortemente nos aspectos regionais e locais. Nos seus 36 anos de atuação na Bahia e Sergipe, a Cáritas sempre teve a preocupação de trabalhar projetos e ações ligadas às questões socioambientais, atuando projetos de convivência com os biomas, aplicação de tecnologias sociais como para captação e armazenamento de água de chuva, bem como técnicas de produção agroecológica a partir dos quintais produtivos das hortas comunitárias, trabalhando também a questão da segurança e soberania alimentar, com a produção agroecológica  e da economia popular solidária. Muitas são as possibilidades e necessidades de adaptação às mudanças climáticas. Mais do que nunca é central intensificar o debate em torno das questões ligadas à crise climática e como as comunidades mais pobres são atingidas diretamente por estas mudanças.  



Foto: Aline Gallo



Texto: Aline Gallo | Comunicação Cáritas NE3

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