Para discutir conflitos
territoriais em comunidades quilombolas foi realizada na manhã desta
sexta-feira (3), na Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE) uma audiência pública
com o tema “Meio ambiente, cidades e comunidades tradicionais: os desafios para
sustentabilidade das políticas públicas em Sergipe”.
FOTO: Valesca Montalvão / Ascom Iran Barbosa
Participaram da atividade ainda,
lideranças comunitárias e representantes de comunidades como a Santa Cruz, no
território quilombola Brejão dos Negros, que vem sofrendo ataques com o avanço
da carcinicultura. “Nunca foi tão importante, no tempo tão sombrio que vivemos,
a unidade, o fortalecimento e o comprometimento das entidades e representações
na defesa do território quilombola, ribeirinhos e indígenas. E a Cáritas
regional Nordeste 3 junto à Cáritas de Propriá vêm fortalecendo as lutas
quilombolas num caminho de garantia de direitos para proporcionar, sobretudo, a
consolidação da sociedade do bem viver”, afirma o secretário regional na
Cáritas Nordeste 3, Jardel Nascimento.
Para ele é urgente a união em
prol dos povos e comunidades tradicionais. “Percebemos a necessidade de somar
ainda mais nesta luta, principalmente quando vemos a invasão do grande capital
a um local sagrado que carrega a ancestralidade dos povos tradicionais onde os
próprios moradores pedem licença para entrar em sua própria área respeitando as
vidas e trajetórias dos antepassados. Então, precisamos chamar a sociedade de
modo geral para refletir sobre a permanência do povo quilombola no seu
território, um povo que historicamente temos uma dívida muito grande no que
tange à garantia de direitos como o acesso a políticas públicas e geração de
renda”, acrescenta Nascimento.
Responsável pela realização da
audiência, com a chancela da Frente Parlamentar Mista de Meio Ambiente,
Segurança Alimentar e Comunidades Tradicionais, o deputado estadual Iran
Barbosa (Psol) pontua a necessidade de valorizar os povos tradicionais e sua
ancestralidade. “Ao pensar a cidade, os lugares e o campo, precisamos pensar
também nas comunidades tradicionais que têm nos passado lições históricas de
como conviver com a natureza e usá-la sem destrui-la de modo que se consigamos
garantir o sustento para as pessoas sem que devaste o meio ambiente e esses
ensinamentos são passados de forma ancestral secularmente pelas comunidades e
essa audiência buscou inspirar-se também nesse contexto para divulgar a
importância das comunidades tradicionais na preservação, mas também servir de
alerta para todas as dificuldades que as comunidades têm enfrentado aqui em
Sergipe”, conclui.
FOTO: Rafael Lopes / Ascom Cáritas NE 3
“Desde o início de nossa luta
pelo reconhecimento de terra tivemos a parceria do mandato de Iran e da Cáritas
que foi a primeira entidade que chegou para nos ajudar e nos dar visibilidade,
sendo muito importante para nossa organização e fortalecimento e estamos aqui
hoje como parceiros que a Cáritas é e sempre de mãos dadas com nossas
comunidades. Esse apoio é muito importante porque sozinho a gente não avança”,
avalia a liderança da comunidade quilombola Santa Cruz, Maria Isaltina Santos.
FOTO: Rafael Lopes / Ascom Cáritas NE 3
Presente na audiência, a
professora da UFS e coordenadora do Programa de Educação Ambiental com
Comunidades Costeiras de Sergipe (PEAC), Christiane Campos, alerta para a
necessidade de respeitar os direitos das comunidades. “Os povos tradicionais
têm uma forma de existência em que sua vida depende de certos nichos
ecológicos. Por exemplo, as marisqueiras só existem porque há mangues.
Extrativistas só existem porque tem áreas de restinga e você só tem pesca
artesanal se tiver água e mar. Então, a poluição e a destruição desses
ambientes ecológicos elimina a existência dessas populações. É importantíssimo
que tenhamos uma educação ambiental que entenda o ser humano como parte desse
ambiente”, finaliza.
Invasão da carcinicultura em
Brejão dos Negros
A carcinicultura impulsionada
pelo agronegócio tem avançado em Sergipe, sobretudo, desrespeitando os direitos
das comunidades tradicionais como a Santa Cruz, no território quilombola Brejão
dos Negros. Recentemente o manguezal utilizado para o sustento de famílias
quilombolas foi devastado e lideranças comunitárias têm sido ameaçadas – Com a luta coletiva, a obra para a implantação de
criatório de camarões foi embargada na última quarta-feira (1) pelo Ministério
Público Federal. A área invadida é demarcada e de posse da comunidade quilombola
desde 2011. Veja o manifesto da Cáritas aqui.
A Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3, por meio do Programa Global, apoia a luta desta e de outras comunidades tradicionais.
Assessoria de Comunicação
Cáritas Regional Nordeste 3