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A crise hídrica no Oeste Baiano - e suas contradições

Dia Mundial da Água desperta reflexões sobre recursos hídricos no Oeste Baiano

Publicação: 21/03/2025



Sem chuva e com calor puxado, não falta ansiedade para falar de crise hídrica no Oeste. De fato, ela existe. Ainda assim, como se fosse anestesiada, a sociedade pouco atenta para o rebaixamento dos rios e o recuo das águas. – Há dois anos, a renomada revista científica Sustainibility publicou uma pesquisa sobre o quadro fluvial no Cerrado que, tendo examinado as vazões de 81 rios (incluindo os principais rios do Oeste Baiano) durante os anos 1985 e 2018, trouxe à tona que esses rios perderam, na média, 15% das suas águas, em decorrência do desmatamento da vegetação nativa e das mudanças climáticas. 

O estudo prevê uma redução por mais 30% das vazões até 2050; parte dos rios vai perder a sua perenidade. Em relação às áreas cobertas de água, o monitoramento pelo MapBiomas evidencia um recuo de 15 %, entre 1985 e 2020. Esse quadro se confirma, de forma exemplaria, nos gerais de Baianópolis e São Desiderio: Pelo antigo Pantanal Baiano, os babaçus e buritis mortos vêm externando a perca de vida e diversidade das espécies. - É notável que o setor Agro também fala de crise hídrica. O sentido, contudo, é outro. Enquanto a crise hídrica acima descrita é ecológica, abalando todo conjunto de vida no mesmo meio físico-químico, a crise hídrica do Agro é econômica, afetando os bolsos de quem mexe com commodities. 

Foto: acervo 10envolvimento

Na boca de Evaristo Miranda - um guru do Agro matopibaiano - a solução da crise hídrica tem duas palavras: Mais irrigação. Miranda projetou o fortalecimento da agricultura irrigada no Oeste Baiano. Saiu então um estudo encomendado pela dupla Governo da Bahia e AIBA. Focado na mera disponibilidade matemática das águas do Urucuia, dito estudo conclui que a área irrigada no Oeste Baiano pode saltar dos atuais 220.000 para 830.000 hectares, sem prejuízo ao meio. A partir daí, quem tem como irrigar a sua fazenda, pode contar com o dedão levantado do INEMA. 

Na região do antigo Pantanal Baiano, por exemplo, o Estado autorizou um grupo familiar proeminente do Agro de explorar as águas debaixo dos seus plantios através de 220 (!) poços profundos de altíssima vazão. - “Águas são muitas, infindas” relatara Pero Vaz à corte portuguesa. É como se tivesse referido ao Oeste Baiano. Pois o mais importante, vital e belo do Oeste é – ainda! - a sua capacidade de armazenar e ofertar água de melhor qualidade. Contanto, é simplesmente contraditório e otário valorizar mais a produção de commodities do que a manutenção dos mananciais de água. O cerne da crise hídrica no Oeste Baiano se situa justamente nesta contradição.

 

Martin Mayr - Coordenador da Agência 10envolvimento - Diácono da Diocese de Barreiras

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