Nos últimos anos os povos e comunidades tradicionais têm
vivenciado a fragilização de políticas públicas devido aos retrocessos
políticos, econômicos, sociais e ambientais que são agravados com ataques aos
territórios por parte de grandes projetos do capital. Os povos e comunidades
tradicionais seguem sendo resistência e se reorganizando na busca pela garantia
de direitos.
Diante deste contexto, o Programa Global contempla povos e
comunidades tradicionais do Brasil, Colômbia e Honduras com ações desenvolvidas
em conjunto com os países supracitados ao longo dos próximos dois anos. Ao
todo, 19 comunidades participam da iniciativa que poderá beneficiar mais de
1100 famílias e cerca de 4800 pessoas. Serão realizadas atividades e
acompanhamentos na defesa de direitos como, por exemplo, ligados à terra e meio
ambiente, bem como ao fortalecimento da participação política das comunidades
rurais.
As comunidades que participam do Programa estão nas regiões Oeste, Alto Sertão, Região metropolitana de Salvador e Recôncavo, na Bahia; e Baixo São Francisco, em Sergipe. Muitas enfrentam desafios ligados ao reconhecimento territorial e algumas regiões sofrem com a grilagem de terras por empresas do agronegócio que atuam com plantios de monoculturas como a soja. Os impactos da mineração também são enfrentados pelos coletivos.
Outros desafios estão ligados aos processos de mobilização
social das comunidades para o enfrentamento às violações de direitos, com o
fortalecimento da organização política e comunitária; a busca por políticas de preservação
ambiental e ampliação de políticas públicas; o resgate de elementos
socioculturais, étnicos de identidade e ancestralidade e à ampliação de
oportunidades de geração de trabalho e renda.
Na Bahia e em Sergipe, o projeto teve início em janeiro de
2022 pela equipe da Cáritas Nordeste 3. O Programa Global buscará fortalecer a
luta pela defesa do território com valorização cultural e estratégias jurídicas
populares envolvendo mulheres e jovens com seus saberes e potencial de
incidência política. Experiências adaptadas às mudanças climáticas a partir das
demandas locais também deverão ser implementadas junto aos grupos que têm seus
saberes e práticas desenvolvidas em convivência com os biomas.
Comunidade quilombola na Bahia se destaca com a produção de farinha, a partir da mandiocultura.
Em visita à comunidade quilombola Bete II, em São Gonçalo
dos Campos, região metropolitana de Feira de Santana, no último dia 11 de
abril, o representante da Cáritas Alemã, Manuel Bretttschneider afirmou que,
mesmo com os obstáculos da pandemia de Covid-19, o projeto segue avançando.
“Consigo ver um avanço muito construtivo. De maneira geral, a pandemia tem
trazido impasses e mesmo assim vocês [Cáritas Nordeste 3] conseguem trabalhar
tanto no âmbito das comunidades, fortalecendo as bases, mas também contribuindo
com a transformação de estruturas que são tão importantes nesses tempos. Estou
bem satisfeito e feliz com essa visita”, destaca.
Como afirma a integrante da comunidade quilombola Alto do
Tororó, em Salvador, Maria de Fátima, é preciso “resistir para existir”. E isso
o programa pretende fazer com as comunidades, em rede e em cooperação, na
incansável luta pela defesa dos direitos.
Visita do representante da Cáritas Alemã, Manuel Bretttschneider.
Cáritas Nordeste 3
A Cáritas Nordeste 3 é um dos braços da Cáritas Brasileira e,
ao longo de seus quase trinta e quatro anos, agrega 18 entidades membro
organizadas em cinco regiões pastorais (territórios de articulação que somam no
fortalecimento da rede nos estados da Bahia e Sergipe). Além de defender os
direitos dos povos e comunidades tradicionais, a instituição atua em defesa dos
direitos humanos, no fortalecimento da economia popular solidária, no enfrentamento
à exploração, abuso e violência sexual de crianças e adolescentes, na luta por
equidade de gênero e desenvolve ações para a coerente convivência com os biomas
bem como vivencia, na prática, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
Assessoria de Comunicação
Cáritas Nordeste 3